
Durante os dias do rali, são muitos os grupos de homens que caminham pelas estradas da ilha de São Miguel, orando, numa tradição que já possui muitos anos e que nasceu, então, do carater religioso da população açoriana e da necessidade de pedir apoio divino, para salvaguardar as populações dos fenómenos naturais, nomeadamente as crises sísmicas que na altura eram muito frequentes e violentas.
As romarias são uma das principais manifestações de religiosidade popular da ilha e nos ranchos só podem participar homens, mas surgiram, entretanto, romarias de mulheres que na maioria duram apenas um dia. Durante o período em que estão na estrada, os romeiros dormem em casas particulares ou em salões paroquiais, devendo iniciar a caminhada antes do amanhecer e entrar nas localidades logo a seguir ao pôr-do-sol.
Estima-se que as romarias da Quaresma integrem cerca de 2.500 homens que percorrem muitos quilómetros a pé durante uma semana, levando um xaile, um lenço, um saco para alimentos, um bordão e um terço, entoando cânticos e rezando. São organizados e devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de S. Miguel.
Este ano percorrem as estradas da ilha 55 grupos de romeiros, dois dos quais do Canadá, sendo que a média de elementos de cada grupo ronda os 50 homens. Os primeiros ranchos saíram para a estrada no fim de semana a seguir à Quarta-feira de Cinzas, 14 de fevereiro, e os últimos regressam às suas localidades na Quinta-feira Santa, este ano em 29 de março.
A organização do Azores Airlines Rallye apela a todos aqueles que, nos dias de prova, vão para a estrada acompanhar o maior evento desportivo açoriano, que moderem a velocidade de circulação automóvel quando se deslocarem para os troços, pois a cada curva poderão encontrar estes grupos de homens, que oram e manifestam a sua fé, numa tradição secular.
Fotografia de Eduardo Saul Silva